Certo dia enviando mensagens em uma rede social, fui indagado por um irmão sobre o abandono pastoral. A pessoa estava visivelmente decepcionada com algum líder que deve ter na sua ótica, o abandonado.
Situações como essas são comuns em nossos dias e de certa forma normais por conta dos relacionamentos que geramos como igreja. O problema é que muitas pessoas escolhem suas lideranças sem critérios objetivos. Escolhem frequentar uma igreja porque em um primeiro momento se empolgam, mas não sabem realmente se desejam se submeter às regras daquele local, aos costumes da igreja e consequentemente ao seu novo líder.
Já ouvi de alguns amigos que se ligaram em uma denominação mas depois de alguns meses frequentando ainda não conversaram com o pastor. Eu penso. Como pode isso? Como posso me ligar a visão de uma pessoa que não conheço?
O fato é que os membros de nossas igrejas atuais possuem o péssimo hábito de não se identificarem, nem na entrada e nem na saída.
Na entrada não estabelecem uma relação com a liderança, parece que estão sempre com pressa, gostam do culto mas não desejam se comprometer. Não interagem com as programações, sentam nos últimos bancos como se estivessem sempre na defensiva.
Na saída geralmente por algum motivo que a liderança nem sabe, não se despedem, como se a relação entre irmãos não existisse. Simplesmente somem do mapa como se toda a dedicação pastoral fosse vã, descartável e sem importância alguma.
A decepção que provém dos bancos muitas vezes não vem do altar. Obviamente que nas redes sociais somos entulhados com frases como: Não devemos olhar para o homem!! O pastor deve procurar a ovelha perdida!!!
Esse discurso tem apelo, as pessoas gostam, mas será que são utilizados da maneira certa?
Vamos lá então:
Paulo em sua primeira carta a igreja de Corinto escreve: " Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei. Mas quero que saibas que Cristo é a cabeça de todo o homem e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo". 1ª Co 11.1-3.
Paulo neste texto está se colocando como referência, assim como ele vários dos apóstolos foram e ainda são referenciais para a pregação do evangelho.
Separar esta afirmação é que é a nossa maior dificuldade. Muitas pessoas no alto das suas frustrações e desconfianças não conseguem possuir referências.
Como um filho que possui traumas em relação aos pais e leva isso para o casamento, muitas pessoas trazem estas frustrações para a vida cristã, no entanto, o próprio Cristo deixou homens que Ele mesmo disse que fariam obras maiores, isso não quer dizer que estes homens seriam maiores, não adoramos homens, obviamente, mas o caráter cristão forjado no Espírito Santo nos direciona a este entendimento naturalmente.
Ainda sobre este assunto, o texto de Atos 3.1-9 relata Pedro e João chegando ao templo para as suas orações, encontrando ali um homem coxo Pedro exclamou: Olha para nós!
A cura viria deste "olhar"? Não. Mas a confiança sim, a segurança em alguém que está lhe trazendo uma palavra de esperança. Uma referência para que se estabeleça ali uma relação ainda que breve.
Outro argumento muito utilizado para responsabilizar pastores locais está na parábola da ovelha perdida, que foi utilizada por Jesus em Lucas 15:3-7, onde Jesus se apresenta como pastor das almas perdidas de Israel.
Esta parábola diferente das outras duas utilizadas para explicar o mesmo tema, compara o "pecador" a uma ovelha perdida.
Em João cap. 10 e verso 4 o próprio Jesus diz que as ovelhas conhecem a voz do seu pastor.
É comum você ouvir as seguintes frases: O pastor nem foi atrás de mim; Não se preocupam com as ovelhas: Não devemos nos basear em homens mas somente olhar para Jesus.
Bom, com os textos acima em mãos e ouvindo estes argumentos logo surge uma pergunta a ser respondida?
Por que na hora de buscar é o pastor local e na hora de eu ouvir é o "jesus" que está dentro da minha mente e que sempre me diz: Você está certo filho é isso aí, o restante estão todos errados?
O pastor humano, local é a representação daquele que o próprio Jesus disse ser, pois o mestre criou um modelo, uma referência, porém as pessoas desvinculam um do outro, sendo que no momento do meu direito o pastor é o local, no momento do meu dever é o pastor espiritual e não o local.
Conclusão:
As pessoas devem compreender que o evangelho se faz com homens de Deus escolhidos para o ministério. Que esses homens devem servir de referência sim, não cega ou burra, mas referência de vida, não podemos desclassificar a herança apostólica deixada por Jesus para a história da igreja.
Por fim, pastor possui o encargo de ensinar, aconselhar e demonstrar verdades, e a ovelha possui como encargo de ouvir e seguir a voz daquele que foi enviado de Deus para acompanhá-la na vida cristã.
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